BRASÍLIA - O Palácio do Planalto avalia que foi precipitado tirar Luiz Antonio Pagot da diretoria-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e procura uma 'saída honrosa' para ele. Embora considerada difícil, até a possível permanência de Pagot no cargo tem sido cogitada por auxiliares da presidente Dilma Rousseff. Líderes da base aliada defenderam, alguns abertamente, a volta de Pagot ao comando do Dnit. A presidente Dilma, porém, resiste em recolocá-lo no cargo.
Auxiliares da presidente acham que o retorno dele daria mais agilidade ao fim das divergências com o PR, partido de Pagot. Ele foi afastado do cargo após denúncias de corrupção na pasta. Na terça-feira, 12, ao prestar depoimento no Senado, Pagot evitou polêmicas com o governo. O Planalto temia o tom do depoimento e uma possível ampliação da crise no setor.
Na sessão da Comissão de Infraestrutura que ouviu Pagot, o senador Blairo Maggi (PR-MT) foi explícito ao pedir a permanência do afilhado na diretoria-geral do Dnit. Para ele, em um mês, quando for concluída a sindicância nos Transportes, se não forem constatadas irregularidades a presidente tem a obrigação de reconduzir Pagot ao cargo.
Já o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirmou de público sua solidariedade a Pagot e ao senador Alfredo Nascimento (PR-AM), que saiu da direção do Ministério dos Transportes na semana passada em meio à crise. 'Eu me solidarizo com o Pagot e com o Alfredo Nascimento', disse Vaccarezza num almoço dos líderes dos partidos da base aliada com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais).
Indagado sobre a possível permanência de Pagot no Dnit, Vaccarezza respondeu: 'Se ele vai continuar ou não, cabe ao novo ministro decidir'. Ele afirmou ainda que, no depoimento no Senado, Pagot falou a verdade, o que, na sua opinião, dará elementos para a imprensa e para a sociedade compreenderem como é que são feitas obras no Brasil.
Ausência do PR. Num sinal de que as relações estão estremecidas, o PR não compareceu na terça ao almoço da base com Ideli, organizado pelo líder do PT, Paulo Teixeira (SP).
'O PR é um dos partidos mais fiéis da base aliada. Não é justo que não tenha um representante aqui', disse o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), 'Quero que o partido volte a ter um lugar na base e nas decisões.'
Em seguida, outros líderes governistas falaram da necessidade de superar o problema Pagot e trazer o PR de volta à base.
Nos bastidores, dirigentes do PR comemoraram o depoimento de Pagot. Auxiliares da presidente Dilma Rousseff avaliavam que se Pagot repetir nesta quarta-feira, 13, na Câmara o desempenho que teve no Senado terá praticamente conseguido um habeas corpus para reivindicar a permanência à frente do Dnit, ou para obrigar o governo a lhe abrigar em outro posto.
'Nesse ritmo, não se provará nada contra ele, o que lhe dá condições de reivindicar seu espaço', disse o deputado José Guimarães (PT-CE).
Palavra de ministro. O próprio ministro Paulo Sérgio Passos, que substituiu Alfredo Nascimento na pasta, disse que não sabe ainda se manterá Pagot. 'Não posso me antecipar à decisão da presidente', disse.
O governo busca uma saída para Pagot e dá demonstrações de que negociará com ele uma solução para o Dnit. Por enquanto, a única alternativa discutida foi a possibilidade do senador Blairo Maggi permanecer no cargo, ainda que temporariamente. A interlocutores do governo, Pagot deixou claro que não aceita sair do Dnit acusado de irregularidades. Tudo o que fez, ressalta, teve a chancela do governo.
Setores do Planalto dão razão ao diretor do Dnit. Argumentam que a Controladoria Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) não apresentaram indícios de irregularidades na sua gestão.
Desde o início da crise, o governo tenta desvincular o apadrinhado de Blairo Maggi das suspeitas de irregularidades.
Auxiliares de Dilma dizem o retorno de Pagot ao cargo manteria a aliança do PT com Blairo Maggi em Mato Grosso, o que é a preocupação do governo. Auxiliares de Dilma minimizam estragos na imagem da presidente se houver um recuo. Observam que foi positiva a substituição de Alfredo Nascimento por Paulo Sérgio Passos, que tem perfil mais técnico. / COLABOROU TÂNIA MONTEIRO